quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

FAÇA TERAPIA ARRUMANDO A CASA

Você já pensou que quando você inicia uma arrumação você também inicia uma terapia? Cada objeto que você pega gera uma série de avaliações e que estas avaliações falam muito mais das necessidades interiores do que das necessidades exteriores.
Lembro-me de um poema de Cora Coralina que fala de um prato, o único que sobrou de um jogo de jantar da sua avó. A partir da descrição do prato e das suas pinturas ela discorre sobre sua relação com a avó, a história que a avó contava dos personagens desenhados no prato e como ela se sentia dentro desta estória. E o prato já lascado da casa de Cora Coralina era velho, feio e inútil, a memória afetiva dele sim tinha valor e sempre o terá em sua memória (mesmo quando já não existir).
Parece que esta revelação contradiz as orientações que eu tenho passado. Sempre falo em “arejar” a casa, o armário descartando tudo que não é necessário e que insistimos em conservar.  Meu lema é desapego. Ao olhar para o prato, escrever, descrever seus  sentimentos em relação as recordações de infância, Cora Coralina abre a consciência de que o prato foi o instrumento que a avó usou para abrir uma porta de comunicação com ela, percebe que a estória da avó se revela na própria fantasia de sua infância de menina comum encontrando seu príncipe. Ao entrar em contato com todos estes aspectos interiores ela não mais “precisa” do prato. Se entendermos que o nosso maior baú de tesouros encontra-se na nossa bagagem emocional não mais iremos precisar de tanto espaço físico para guardar objetos.
Se, como Cora Coralina, guardássemos o prato das recordações felizes, não seria nem complicado... Já parou para pensar em quantos objetos que trazem lembranças ou mensagens negativas fazem parte da nossa vida, da nossa casa?  Quantos objetos que se tornam pesos carregados pelas gerações pelo simples padrão familiar sem que estes objetos não se relacionem nem com a expressão, nem ao estilo da pessoa? Já ouvi frases: “Eu não gosto desta cadeira, ela não combina com o meu quarto, mas minha mãe me diz que ela pertenceu ao meu bisavô e que seria uma heresia descartá-la da minha vida.” Que tipo de vibração deve refletir na vida desta pessoa se, a cada “olhada” para a cadeira ela pensa “eu tenho que carregar esta cadeira por toda minha vida, mesmo que não goste dela”? Tem trabalho mais psicoterapêutico do que olhar de frente para a cadeira, avaliar a culpa que o impede de descartar a cadeira, a crença familiar que se desenvolveu focada na cadeira e a renovação dos processos interiores a partir da decisão de aceitar que não quer e não vai mais carregar a cadeira?
Então, sigo no meu conceito de que arrumar a casa é uma terapia e das melhores. Não perca tempo, mexa-se, desapegue-se das ilusões que criou para si mesmo e arrume a sua vida!

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